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Comer com as mãos: uma questão de bem-estar

Trabalhei por anos em uma indústria farmacêutica multinacional indiana. Era comum receber os indianos no Brasil e o assunto que dominava as conversas prévias aos jantares com os funcionários que nos visitavam com uma certa frequência, era o mesmo: os indianos comem com as mãos!

 

Confesso que, ao primeiro contato com eles, tive uma certa dificuldade para compreender o sentido de “tudo” aquilo. Tive dificuldade para entender o tal hábito cultural e, principalmente, repetir os movimentos com tamanha agilidade e destreza.

 

Com o passar do tempo, devida a convivência com os nossos colegas advindos de Ahmedabad, aprendi coisas incríveis relacionadas à cultura deles. Dentre tantos aprendizados, consegui entender o significado do “comer com as mãos” e o verdadeiro prazer que esse hábito proporciona.

 

Existem questões históricas, religiosas e culturais que envolvem esse ritual. Por ora, convido você, leitor, a prestar atenção na questão do bem-estar e do conforto proporcionados pelo fato de comer com as mãos. Combinado?

 

Comer com as mãos é mais prazeroso do que utilizar utensílios específicos, garfo e faca por exemplo, durante as refeições. Essa afirmação foi possível ser comprovada cientificamente e está relacionada aos nossos cinco sentidos. 

 

De acordo com os cientistas da Universidade Stevens, de Nova York (EUA), o ato de tocar a comida faz com que as percepções cerebrais sensoriais se tornem mais aguçadas e, por isso, o sabor é melhorado.

 

O estudo é complexo e envolveu três diferentes subgrupos. Mas, o mais interessante é que podemos afirmar que comer com as mãos pode fazer com que o sabor da comida fique melhor, e, por outro lado, o tal hábito fez com que os voluntários comessem mais.

 

Saindo da Índia e caminhando rumo à Etiópia, o Injera (pão etíope, assado numa chapa de ferro ou numa placa de barro, um dos alimentos mais comuns do país) serve como uma espécie de “veículo” condutor de molhos e dos wots (tradicionais guisados etíopes). É comum o etíope enrolar esse pão tradicional, passar sobre o molho ou sobre os guisados e servir, com as mãos, um membro da sua família ou acompanhante.

 

Não faltam exemplos de países e culturas cujo hábito de comer com as mãos é presente até os dias atuais. Hoje já se sabe, cientificamente, sobre os prazeres relacionados a essa prática. E você, já comeu um babaganush, um homus ou uma coalhada usando apenas pedaços de pão sírio e as próprias mãos?

 

Sinta o prazer e o bem-estar proporcionado a partir desse hábito e lembre-se de que comer é uma questão, também, cultural.


Fenando Palauso

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