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Propósito, Sentido e Experiência. Serão estes os caminhos?

O psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905 – 1997) perdeu toda sua família em Auschwitz durante a segunda grande guerra. Para mim, é impossível alcançar a dimensão de uma tragédia como esta, mas o Dr. Frankl era um ser humano incomum. Durante aquele horror, ele passou a observar o comportamento das pessoas no campo de concentração – presos e soldados. Todos os dias alguns eram selecionados para morrer na câmara de gás e o Dr. Frankl começou a notar que na grande maioria das vezes, as pessoas escolhidas eram aquelas que estavam entregues, que não viam saída para aquele calvário, que não tinham mais qualquer brilho nos olhos. As que tendiam a escapar com maior frequência, apresentavam outra característica importante: se ocupavam de fazer alguma coisa para seus companheiros. Engraxar sapatos, arrumar as camas, manter o lugar o mais limpo possível. Aos olhos do Dr. Frankl, estas pessoas tinham uma energia vital maior porque haviam encontrado um propósito; pequeno em importância percebida, mas altíssimo em valor. 

 

Um dia, dois jovens o procuraram para informar que haviam decidido cometer suicídio, atirando-se na cerca eletrificada. A primeira pergunta que o Dr. Frankl fez foi: por quê? Ambos haviam perdido o sentido em viver. Segundo eles, não vislumbravam qualquer perspectiva e, nas palavras deles, “o mundo não tinha mais nada a lhes oferecer”. 

Neste momento, com base nas observações acima, o Dr. Frankl respondeu: Ora, mas e vocês? O que vocês têm para oferecer ao mundo? Com esta pergunta ele os dissuadiu de seguir em frente. Ali ele mesmo percebeu que ganhamos imensa energia vital e sentido quando saímos de nós mesmo e nos abrimos para realizar algo para o outro. 

 

Terminada a guerra, o Dr. Frankl criou a terceira escola vienense de psicoterapia, a Logoterapia e Análise Existencial. 

Há um contraponto às teorias dele. O mitólogo americano Joseph Campbell (1904 – 1987) não concordava com a ideia de busca de propósito ou significado na vida. Em seu livro “O Poder do Mito”, ele afirma que o que o ser humano de fato busca é a experiência de estar vivo. 

 

Quem será que tinha razão? Penso que ambos. Minhas observações pessoas ao longo de mais de 40 anos no mundo corporativo notei que sim, a experiência de estar vivo é totalmente necessária para manter elevado o nível de energia vital e ocorre nos momentos de alegria, de tristeza, de raiva, de amor. Só se perde no tédio. Quando ficamos entediados, nossos corações se transformam em uvas passas e começamos a morrer. O brilho dos nossos olhos começa a se apagar. 

 

Como se livrar do tédio? Penso que encontrar um grande propósito pode se tornar um pouco difícil, no mundo ansioso em que vivemos hoje. Creio ser mais adequado e realista começarmos com objetivos. A princípio, objetivos de curto prazo. Na medida em que vamos conseguindo dar os pequenos passos a que nos propomos, podemos nos aventurar a objetivos de médio e de longo prazo. Será neste último que, potencialmente, encontraremos propósito. Ao longo do caminho, termos amplas experiências de estarmos vivos. 

 

Ao pensar na vida profissional, creio que isto se traduz numa tríade: Satisfação, Contribuição e Recompensa, a saber: O que faço me traz satisfação? (não é preciso estar apaixonado pelo que faz). O que faço contribui com o outro? (Isto aumenta minha satisfação). O que faço me oferece recompensa adequada? (Todos temos contas para pagar). 

 

Se sua resposta for “não” para qualquer destas perguntas, é um sinal de que uma uva passa pode estar nascendo dentro de você.

 

Não deixe que isto aconteça. Planeje seus pequenos passos e reencontre-se com você mesmo.

 

 

Charles Poppof

@popoffcd

 

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