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Bem-estar Profissional

Por Charles D. Popoff

Toda vez que entro em sala para ministrar um treinamento, seja qual for o público (desde estagiários a diretores de empresas) faço duas perguntas aos participantes que considero fundamentais quando se trata das relações humanas dentro do ambiente de trabalho. 

São elas: 

  1. Estamos aqui na (nome da empresa). Ela existe? 

R. Sim. Correto. 

2. Ela é real ou imaginária? 

R. Real. Opa! Errado. 

Neste momento todo mundo olha para mim com cara de espanto. Errado? Mas como assim, errado? 

Então sigo perguntando. 

– Por que vocês acham que é real? 

– Ora, estamos aqui na empresa, no prédio. 

– O prédio é o prédio, não é a empresa. Se a empresa resolver sair do prédio, o prédio continua aqui. 

– Mas eu tenho todas as coisas da empresa aqui, o telefone, o computador… 

– O telefone é o telefone. O computador também. São coisas físicas que pertencem à empresa, mas não são a empresa. 

A verdade é que empresas são “entidades jurídicas”, que foram criadas a partir de uma ideia e fazem parte da nossa imaginação coletiva. O historiador Yuval Noah Harari exemplifica isto com muita clareza em seu livro “Sapiens” (Companhia das Letras) com o caso da montadora francesa Peugeot quando, no final do século XVIII, seu presidente Armand Peugeot a transformou numa “entidade jurídica”. Esta foi uma mudança gigantesca na maneira legal de se encarar a empresa. Até então, os donos das empresas eram juridicamente responsáveis pelo sucesso ou fracasso desta e se este último fosse o caso, poderia perder sua fortuna pessoal. A empresa era, literalmente, o dono. 

Depois da criação da entidade jurídica, criou-se também a “corporação” que, por sua vez, passou a ter “vida própria”. Estava submetida às leis vigentes, tinha conta bancária, pagava impostos e poderia até ser processada separadamente de seus donos e funcionários.

E qual o motivo de eu estar contando isto? Bem, porque uma entidade jurídica só tem vida própria de fato, quando algo verdadeiramente real estiver no leme. 

As pessoas. 

São os seres humanos que fazem com que a tal entidade imaginária pareça ser real e ter vida própria. São seres humanos que ligam as luzes e as máquinas pela manhã. São elas que tomam decisões para criar os melhores resultados possíveis (ou ao menos tentam). 

Ao mesmo tempo, se estes seres humanos, qualquer que seja o cargo que ocupem, perderem a consciência de que o grande valor de uma empresa está justamente nas pessoas há uma grande chance do negócio não se sustentar no médio e no longo prazo. 

Pesquisas realizadas ao longo de 40 anos pelo Instituto Great Place to Work mostram que quando os colaboradores sentem bem-estar no trabalho, são reconhecidos, respeitados e sobretudo escutados, a empresa tem um ganho de 15% no lucro. Não é pouco. 

Sim, eu sei. Gente tem dor da barriga, distraem-se, faltam, pedem aumento, reclamam. 

Tudo isto é verdade. Não obstante, é justamente aí que reside o desafio mais importante – descobrir maneiras de ajudar os colaboradores a encontrarem e entregarem o melhor que elas têm para dar. 

Por onde se começa? 

Ora, converse, faça as perguntas certas e escute o que o colaborador tem a dizer. Ah, e esteja pronto para se surpreender.

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